A pressa sempre foi inimiga deste Barichello. Com vagar e paciência, o primomais distante (e menos famoso) do piloto de Fórmula 1 vem tocando com calma uma vinícola em meio à vida urbana de Porto Alegre.

Aos 62 anos, o ex-executivo do setor financeiro Luiz Alberto Barichello(“comum‘r’amenos, comomandaagrafiacorreta”, explica) está desde 2003 à frente da Villa Bari, um delírio artesanal que ocupa seu tempo e imaginação.

Na Vila Nova, bairro localizado a cerca de 15kmdo centro da capital gaúcha, Barichello ocupa uma área que comprou em 1978 e desde então tem ampliado.

Hoje são 22 hectares. A decisão tomada há três décadas, quando a região era ainda inóspita, saldava, de certa forma, uma dívida que ele tinha com a própria infância.

Os avós de Barichello chegaram ao Brasil em 1880, vindos de Treviso, na Itália, e se instalaram na Vila de Conde D’Eu, hoje cidade de Garibaldi, a 110 km de Porto Alegre. Seu pai era tanoeiro – profissional especializado no fabrico de barris, pipas ou tonéis para transportar e conservar vinho.

“Quis recuperar minha memória olfativa, trazendo de volta aromas que me acompanham desde a infância”, diz.

Barichello produziu seus primeiros vinhos, a partir de uvas americanas, numa cave rústica de pedras. Há dez anos, começouaplantarviníferas trazidas da Itália, como a Cabernet Sauvignon, a Cabernet FranceaMerlot.Foipioneiro, na região, na produção de vinhos feitos com uvas transformadas em passas. A primeira safra foi produzida em 2003 e os vinhos, engarrafados coma marca Villa Bari (Cabernet, Merlot e Gran Rosso).

O trabalho é lento e artesanal e, por enquanto, temtrazido mais alegrias que dinheiro. “Meu vinho não é para consumoimediato”, avisa Barichello.

No momento, ele trabalha a safra 2005 – outras quatro estão armazenadas. Produz, em média, apenas 5 mil a 6 mil garrafas. Vende, de forma restrita, para restaurantes e lojas da capital eda serra gaúcha, além deuma pequena incursão no mercado catarinense e carioca.

São Paulo ainda está distante dos vinhos de Barichello. Talvez pelo fato de ele ter escolhidoocaminhomaislongo. Preferiu passar antes pela Itália, mais exatamente por Negrar, na Província de Verona. É lá que, em parceria com o produtor Luca Fedrigo, Barichello produz há quase uma décadavinhoscomamarcaL’Arco, exportadosparaos Estados Unidos, Canadá, países escandinavos e Brasil.

Em 2005, passeando pela Toscana, o empresário encantou-se com uma pequena quinta que,porcoincidência,estavaàvenda. Comproue plantou ali videiras para a produção de Chiantis Classicos e Supertoscanos.

E Barichello não para aí. Em parceira com investidoresargentinos e italianos eletemplanosde ocuparumaárea de 2 mil hectares, na região vinícola argentina deMendoza,próximaàCordilheiradosAndes, para plantar uvas – e também azeitonas e cerejas. Na vizinhança, quer desenvolver um condomínio vinícola, com pequenos lotes para interessados em manter o próprio vinhedo e produzir vinhos.