O Vinho sem Frescura volta a publicar reportagens com personagens do mundo do vinho na série entitulada Na Colheita. O entrevistado é Luiz Alberto Barichello, um executivo aposentado que resgatou as reminiscências da infância em Garibaldi, na Serra Gaúcha, e criou sua vinícola num bairro rural de Porto Alegre. Trata-se da Vila Bari que elabora seus rótulos em quantidade artesanal e com cuidados tecnológicos comparáveis aos das vinícolas de ponta. Um de seus vinhos, o Vila Bari Granrosso 2005, foi o mais votado pelos enófilos que participaram de degustação às cegas de vinhos de corte bordalês (cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc) promovida pela seção carioca Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (Sbav-Rio). Barichello, que não tem parentesco com o piloto de Fórmula 1, está na Toscana acompanhando a execução de mais um de seus projetos. Na entrevista que concedeu por email a este blogueiro, Barichello conta como descobriu a possibilidade de elaborar vinhos na capital gaúcha, como é o processo de vinificação desta jovem vinícola e antecipa projetos futuros, como a vinícola que está montando na Itália e um condomínio de vinícolas e lotes para enófilos na região de Agrello, em Mendoza (Argentina).
Tive o prazer de participar recentemente de uma degustação às cegas com vinhos de corte bordalês na SBAV-Rio e o vencedor da noite acabou sendo um de seus vinhos, o Villa Bari Granrosso. Qual foi a tua reação ao saber desta notícia?
Luiz Alberto Barichello – Me senti gratificado pelo trabalho que desenvolvo na produção de vinhos diferenciados e pelo reconhecimento da potencialidade do solo de algumas áreas de Porto Alegre, que podem desenvolver bons frutos, entre eles as uvas viníferas e talvez olivas.
Como muita gente não conhece a Vila Bari, o sr. pode nos contar um pouco sobre a história da vinícola?
Luiz Alberto Barichello – Nasci no ano da grande safra de 1947 em Garibaldi, a cidade dos espumantes. Ajudava meus avós na colheita de uvas e na produção de vinho. Meu pai, com sua tanoaria, fornecia barris de madeira às vinícolas. Minha infância e parte da juventude estão ligadas a este mundo do vinho e do meu primeiro emprego como locutor de rádio. Aos 17 anos, vim a Porto Alegre para iniciar os estudos universitários. Só voltei a resgatar essas lembranças de infância em 1975, ao adquirir a primeira gleba de terra na área agrícola de Porto Alegre, no bairro Vila Nova, que já era reconhecido como produtor de frutas. As colinas me lembravam a Serra Gaúcha.
E começou a pensar em vinificar já nessa época?
Luiz Alberto Barichello – Apesar de meus compromissos profissionais, busquei ao máximo conciliar a carreira com esse resgate do passado. Nos fins de semana participava no cultivo de um pequeno vinhedo de uvas americanas, que já estava implantado na propriedade. Construí a primeira cantina, toda em pedras de granito rosa da região, ao lado de uma queda d’ água. E então se deu a primeira produção de vinhos que se destinava a nossa família. Poucos anos depois passei a morar nessas colinas e construí minha casa, minha carreira de executivo de finanças em mídias e comunicações. Mais adiante novas obras, mais aquisições de terra, novo vinhedo com mudas importadas da Itália e, em 2003, colhi a primeira safra com uvas cabernet sauvignon, cabernet franc e merlot, vinificadas em Garibaldi pelo meu conterrâneo Orgalindo Bettu.
Quanto o sr. colheu na ocasião?
Luiz Alberto Barichello – Foram em torno de 3 mil quilos em 2003 e 5 mil em 2004.
E qual foi o ponto de partida para trocar essa produção artesanal, familiar, para volumes de mercado?
Luiz Alberto Barichello – Em 2004 conclui a nova cantina, projetada para atender as necessidades de uma produção entre 5000 a 6000 mil garrafas/ano, num ambiente com ar condicionado central – no subsolo com equipamentos para produção de frio para vinificação e temperatura/umidade adequadas para a adega e na parte superior com extrator de umidade para o passimento de uvas. E assim, a partir de 2005, surgiam os primeiros vinhos com uvas de maturação prolongada, assistidos por agrônomo, estagiário de enologia e por mim.
Ainda com o Bettu? Quanto tempo durou essa parceria?
Luiz Alberto Barichello – Não, o Orgalindo Bettu vinculou-se ao projeto de elaboração de vinhos da Villa Francioni. Nós vinificamos juntos as safras dos anos de 2003 e de 2004, numa parceria em que dividíamos os vinhos extraídos. A partir de 2005, com um projeto diferenciado iniciei um vôo solo acompanhado por profissionais do setor.